domingo, 29 de agosto de 2010

A opinião de um perito



Reflexões de Fidel Castro no granma



SE me perguntassem quem é o mais conhecedor acerca do pensamento israelense, responderia sem hesitar que é Jeffrey Goldberg. Jornalista incansável, capaz de se reunir dezenas de vezes para indagar sobre o pensamento de um líder ou de um intelectual israelense.
Naturalmente, ele não é neutral, é, sem dúvida, pró-israelense. Quando algum deles não concorda com a política desse país também não adota um meio-termo como posição.
Para meu objetivo, o que interessa é conhecer o pensamento que norteia os principais líderes políticos e militares desse Estado.
Sinto-me com autoridade para opinar, porque nunca fui antijudeu e partilho com ele um profundo ódio contra o nazi-fascismo e o genocídio perpetrado a crianças, mulheres e homens, jovens ou anciãos judeus nos quais Hitler, a Gestapo e os nazis, saciaram seu ódio contra esse povo.
Pela mesma causa aborreço os crimes do governo fascista de Netanyahu, que assassina crianças, mulheres e homens, jovens e anciãos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
Em seu ilustrado artigo "O ponto de não retorno" que será publicado na revista The Atlantic, no mês de setembro de 2010, já conhecido através da Internet, Jeffrey Goldberg inicia o trabalho de mais de 40 páginas do qual tiro as idéias essenciais para conhecimento dos leitores.

O artigo, na íntegra voce pode ler no sitio do granma.cu

Aníbal Diniz: “a tendência nacional pró-Dilma terá reflexos no Acre”


A situação do Acre que está na contramão da tendência nacional de eleger Dilma Rousseff (PT) à presidência no primeiro turno, segundo as recentes pesquisas, parece começar a mudar. Pelo menos ao que se refere à visibilidade da campanha da petista. Já se pode ver placas com a propaganda de Dilma nas ruas das cidades acreanas. Além disso, o diretório regional do PT tem promovido diversos atos para tornar a presidenciável mais conhecida no Estado. Sem falar no esforço dos candidatos majoritários da FPA, Tião Viana (PT), Jorge Viana (PT) e Edvaldo Magalhães (PCdoB) que têm colocado a questão como prioritária nos seus discursos.
Anilbal-Diniz
Suplente do senador Tião Viana e um dos coordenadores da campanha da FPA, Aníbal Diniz (PT), conversou, ontem, com A GAZETA, sobre o assunto. “Têm dois fatores importantes: o empenho das nossas lideranças se esforçando para mostrar à população o quanto uma eleição da Dilma é importante para o Acre. Que isso poderá nos deixar com um canal mais aberto para o diálogo e conseguir os pleitos junto à Brasília. O segundo foi o efeito do crescimento da Dilma no plano nacional que passou o Serra (PSDB) e deu um salto fenomenal. Uma diferença que nem o presidente Lula candidato à reeleição conseguiu. Esse efeito começa a ser sentido por aqui e a tendência é a gente ainda melhorar muito mais esse crescimento no Acre até chegar a uma vitória”, garantiu.

A relação política do AcreAníbal Diniz, acredita que uma eventual vitória eleitoral da Dilma no Acre facilitaria o diálogo com o futuro governo. “Agora, está de maneira clara que Dilma pode ganhar no primeiro turno. Isso nos facilita o diálogo com os eleitores. Neste caso, o Acre sendo um Estado dependente das verbas federais não fica bem a gente contrapor as ordens das coisas políticas no plano nacional. Uma mudança do quadro também significará que a nossa população é atenta politicamente. Nós conseguimos fazer uma transformação que estado nenhum conseguiu graças à decisão da nossa população. E essa vitória da Dilma pode nos abrir portas importantes”, avaliou.

Indagado sobre a questão contrária que acontece no Acre onde as lideranças regio-nais são mais influentes que as nacionais, Aníbal, respondeu:  “este é um fator que precisa ser estudado. Conversei nessa semana com o chefe do Gabinete do presidente Lula,  ministro Gilberto Carvalho, e ele nos cobrava um estudo melhor do povo do Acre. Ele indagava por quê o Serra está na frente por aqui. O normal seria a Marina Silva (PV) estar na frente. Mas imagino que com a nova pesquisa do Ibope, que sairá amanhã, o resultado deverá ser mais favorável à Dilma. Até o dia da eleição poderemos reverter completamente essa situa-ção”, prognosticou.
O fator LulaO suplente de senador, explicou as razões da transferência de votos de Lula para Dilma em todo o Brasil. “Lula durante cinco eleições esteve no horário gratuito. Foram 20 anos de exposição. Mesmo nas derrotas ele teve uma exposição positiva e nas duas vitórias muito mais. Depois como presidente fez um governo com as melhores ações para o Brasil em todas as áreas. O mesmo período que também foi o mais profícuo para o Acre. Crescemos e reduzimos as desigualdades sociais. isso tudo justifica a transferência. O Lula só está pedindo ao povo brasileiro para que permita a continuidade do projeto. E quem é a Dilma? Ela é a pessoa número um da equipe do presidente Lula que coordenou os programas de maior impacto junto à população”, argumentou.

Outra questão relevante para Aníbal é o fato de Dilma poder ser a primeira mulher presidente do Brasil. “A mensagem do Lula é que se as pessoas gostaram do seu governo muito se deve a Dilma que poderá avançar ainda mais. Também o fato dela ser mulher é impactante para o Brasil que amadureceu no sentido de ter uma mulher presidente. O Lula rompeu o preconceito maior como pobre e metalúrgico e virou um dos melhores presidentes da nossa história. Ele chegou com a maior aprovação popular de todos os tempos no final de oito anos de mandato”, analisou.

A reversão no EstadoAníbal acredita que todos estes fatores deverão ter reflexos por aqui. “No Acre a gente espera que a força da própria Dilma começará a ser notada pelo eleitorado. Inclusive, ela já está participando do nosso programa eleitoral com gravações pedindo votos para o Tião Viana e isso vai fazê-la mais conhecida ainda. Nós já temos no dia 13 de setembro uma atividade organizada pelas mulheres acreanas que terá como foco a campanha da Dilma e fora isso em todos os nossos eventos é dito pelas nossas lideranças o quanto é importante a sua vitória no Acre”, ressaltou.

Os próprios dirigentes e militantes da FPA já sentem uma mudança na relação eleitoral do povo acreano com Dilma. “Nós já fizemos uma rodada de visita completa em todos os municípios acreanos sempre levando o nome dela. Quando se anda pela cidade já se vê placas com as suas propagandas. Há dois meses as pessoas queriam os adesivos do Jorge, Tião e Edvaldo e não queriam da Dilma. Agora, não só querem a propaganda da Dilma como tem muita gente buscando material dela nos comitês o que demonstra que o efeito nacional já se sente no Acre”, finalizou.

Apenas três anos atrás



 "Apenas três anos atrás era impensável um Fórum Social das Américas no Paraguai. Este país ausente começa a se fazer presente. O Paraguai renasce", disse Hugo Ferreira no ato de abertura do IV Foro em Assunção, cantando Mi Pais, que ele tinha deixado de cantar por falta de esperança e liberdade. Apenas 11 anos atrás, na noite de 24 e madrugada de 25 de março de 1999, 7 manifestantes foram mortos na praça frente ao El Cabildo, mesma praça de abertura do Foro, por franco-atiradores postados no alto dos edifícios, na luta por democracia e por um Paraguai livre, no que foi chamado Massacre do Março Paraguaio.
Apenas alguns anos atrás os indígenas bolivianos não se apresentavam num Foro com toda altivez, pregando ao mundo o Bem Viver da harmonia entre as pessoas e a harmonia das pessoas com a natureza, e são reconhecidos como povos na Bolívia plurinacional.
Apenas poucos anos atrás a maia e guatemalteca Rigoberta Menchú, Prêmio Nobel da Paz/1992, não pôde visitar o Paraguai, porque não lhe garantiam segurança, o que pode fazer em 2010 sob as asas da liberdade e da democracia. Apenas pouco tempo para cá indígenas brasileiros, peruanos, equatorianos, guatemaltecos e de todos os países latino-americanos tornaram a anunciar com orgulho suas raízes, sua forma de produzir, sua cultura e reverenciar os ancestrais e seus valores.
Apenas há pouco tempo era impossível reunir na mesma mesa num foro latino-americano um presidente boliviano indígena, um presidente paraguaio bispo da Teologia da Libertação, um presidente uruguaio ex-guerrilheiro tupamaro.
Apenas há muito, muito poucos anos dos mais de quinhentos desde sua colonização não são generais os presidentes eleitos, ou mandaletes dos poderosos de plantão ou lacaios do poder econômico dependente ou ditadores de plantão.
Apenas há poucos anos é eleito um presidente brasileiro metalúrgico e sindicalista, um presidente equatoriano que vem das Comunidades Eclesiais de Base, um presidente venezuelano dissidente das forças militares conservadoras, um presidente salvadorenho aliado de históricas forças guerrilheiras.
Apenas há poucos anos o povo começou a votar livre e soberanamente seus governantes sem o poder das armas e o tacão do fuzil nas costas.
Apenas há pouco tempo os golpes de direita, as ditaduras, as eleições fraudadas eram a marca registrada da América do Sul e América Central e Caribe.
Apenas há poucos anos o FMI e o Banco Mundial eram os únicos interlocutores da política econômica e social dos países do continente latino-americano e de seus governos.
Apenas poucos anos atrás as ordens vinham de fora, do estrangeiro, e os governantes batiam continência para o poder econômico externo.
Apenas quatro ou cinco atrás não havia UNASUL, ALBA, Banco do Sul e a integração latino-americana.
Apenas há poucos anos trabalhadores sem terra, catadores de materiais recicláveis, moradores de rua, pescadores, pequenos agricultores, negros e quilombolas, indígenas, o povo LGBT eram escorraçados dos corredores do poder, aos quais jamais tinham acesso, muito menos participação.
Apenas há pouco tempo os pobres latino-americanos não tinham voz nem tinham vez, sendo apenas bucha de canhão para ‘servir’ a pátria ou dar seu voto na eleição.
Apenas algumas décadas atrás, como retrata o filme Diários de Motocicleta, Che Guevara pregava a unidade latino-americana em sua viagem de (re)conhecimento do povo latino-americano, que hoje torna-se realidade.
Como disse Rigoberta Menchú em praça pública, sobre o tratamento de saúde do presidente paraguaio Fernando Lugo que acontecia durante os dias do Foro, "as aves agourentas e mafiosas voltaram a se movimentar no Paraguai". Por isso, toda prudência é pouca e toda vigilância é urgente e necessária.
Diz a canção Guaranis de Gildásio Mendes: "Ah! Quanta luta na fronteira,/ tanta dor na cordilheira,/ que o Condor não voou./ Ah! Dança e terra guaranis,/ de uma raça tão feliz que o homem dizimou./ Ah! Vou nos passos de um menino,/ no meu coração latino a esperança tem lugar./ Ah! Quando bate a saudade,/ abre as asas liberdade, que não para de cantar."
Ou o cantador Zé Vicente, em Pelos Caminhos da América: "Pelos caminhos da América, bandeiras de um novo tempo,/ vão semeando, ao vento, frases teimosas de paz./ Lá na mais alta montanha, há um pau d’arco florido,/ um guerrilheiro querido, que foi buscar o amanhã. /Pelos caminhos da América há um índio tocando flauta,/ recusando a velha pauta que o sistema lhe impôs./ No violão um menino e um negro tocam tambores,/ há sobre a mesa umas flores, pra festa que vem depois."
É, o tempo da unidade latino-americana sonhada por Che chegou.

* Assessor Especial do Presidente da República do Brasil. Da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política

Alerta vermelho! Os russos estão chegando!


 Pepe Escobar, Asia Times Online

Tradução de Caia Fittipaldi no viomundo

Executivos de Hollywood e políticos de Washington são russófobos maníacos. Considerando o muito lamentável nível do discurso político nessas duas capitais do entretenimento de massa, ninguém deve esperar que os “formadores de opinião” locais tenham lido o recente trabalho do professor Paul Kennedy, no qual a história da Europa é narrada em formato de rota de colisão com os EUA, a partir da inevitável retração dos EUA na nova ordem do novo mundo multipolar emergente.
A russofobia hollywoodiana sempre emerge como caricatura completa, como no [filme] atualmente em cartaz “Salt”, veículo para exibir a irrepreensivelmente sem graça Angelina Jolie – com rapto de bebês pela ex-KGB, os quais são convertidos em superagentes infiltrados nos EUA, onde fazem carreira e pacientemente esperam o momento de porem-se a infernizar e sabotar a democracia ocidental, sempre começando por tentar assassinar o presidente dos EUA. Jolie é tão convincente quanto aquelas super-toupeiras eslavas que aparecem nos roteiros escritos pela CIA para vídeos de Osama bin Laden.
Por sua vez, a russofobia de Washington emerge como uma Cortina-de-Ferro-ao-contrário, erguida pelos EUA, os quais, como rezam os termos da doutrina do Pentágono, de dominância militar de pleno espectro, combinados com a OTAN, comandam um anel de bases militares para cercar completamente a Rússia, do Báltico ao Cáucaso e à Ásia Central.
E o que respondem os russos? Tanto no Afeganistão quanto no Irã, a resposta leva a marca do bom jogador de xadrez, discreto, calado, direto ao ponto e com vistas de acertar no milhar.
Todas as jihads levam a Sheberghan
No Afeganistão, a liderança em Moscou sempre soube que o muro tinha a ver com o plano, de EUA e OTAN, para estabelecerem uma nova hegemonia na Ásia Central – a sempre mesma história da dominância militar de pleno espectro. Mas em seguida Moscou descobriu – ao seguir o exemplo dos chineses, que investiram US$3 bilhões em minas ao sul de Cabul – que o melhor dos mundos seria fazerem muito dinheiro, enquanto o ocidente bate cabeça naquele atoleiro de guerras que jamais vencerá. A isso se chama o plano da Organização de Cooperação de Xangai, para erguer o cerco à volta da OTAN.
O presidente afegão Hamid Karzai acaba de visitar Moscou, onde foi saudado pelo presidente Dmitry Medvedev com uma cesta de projetos no valor de US$1 bilhão – de usinas hidrelétricas a exploração de minérios, os mesmos minérios que levaram o Pentágono, recentemente, a desenterrar suas predições exageradas de que o Afeganistão seria uma Arábia Saudita do lítio.
A história, às vezes, tem meios para tornar a realidade cada vez mais espantosa. A indústria de mineração afegã, baseada em Sheberghan, na remota província de Jowzjan, hoje controlada pelas milícias do general Abdul Rashid Dostum, foi, simplesmente, inventada pelos soviéticos. Dostum, guerreiro uzbeque, atualmente ministro no governo de Karzai, começou a construir sua carreira no exército afegão pró-soviético dos anos 1970s, antes de espertamente migrar para os mujahideen durante a jihad dos anos 1980s, quando se tornou um dos “guerreiros da liberdade” do ex-presidente Ronald Reagan dos EUA.
Reza a lenda que, quando Dostum visitou o Texas, no final dos anos 1990s, levava com ele o mapa do tesouro – toda a prospecção que os soviéticos haviam feito das riquezas minerais do Afeganistão. Chama-se a isso posicionamento perene; hoje, Dostum está no lugar certo para se beneficiar da prodigalidade dos russos. O Dr. Zbigniew “O Grande Tabuleiro de Xadrez” pode ter negociado um golpe crucial contra a União Soviética – sob a forma da jihad dos anos 1980s.
Mas é possível que os russos riam por último. O Afeganistão sempre será visto por Moscou como sua esfera de influência. A Rússia, além de ter boas conexões com a facção uzbeque, também tem bons contatos na facção Panjshir do governo Karzai – através do general Mohammed Fahim, vice-presidente do Afeganistão e líder supremo incontestável da espionagem local.
O novo ‘El supremo’ norte-americano da guerra do Afeganistão, general David “Estou sempre de olho em 2012” Petraeus – que se dedica atualmente a reescrever a guerra “Af-Pak” como se os EUA estivessem derrotando os Talibã – talvez provoque ondas de risinhos em Moscou (para não falar de Quetta, onde vivem os líderes da al-Qaeda). Mas, hoje, Moscou pode dar-se até o luxo de ser magnânima e deixar passar por território russo os suprimentos da OTAN. Os russos sabem que onde interessa – onde estão os bons negócios, no norte do Afeganistão – seu futuro não poderia ser mais luminoso.
Tudo que seja nuclear vira ouro
A nova usina nuclear de Bushehr – a primeira, no Oriente Médio – inaugurada conjuntamente sábado passado por Rússia e Irã, posiciona o Irã, sem qualquer dúvida, como umas das 29 nações que produzem energia nuclear no mundo. Mas é também grande negócio para a indústria nuclear russa, nesse caso representada pela estatal Rosatom.
Há seis meses, o primeiro-ministro Vladimir Putin disse que a Rosatom tem capacidade para construir 25% das usinas nucleares em todo o mundo (atualmente, construiu 16% delas). Atomstroiexport, o braço de construção civil da Rosatom, construirá uma grande usina na Turquia, e já pôs os olhos em Bangladesh e no Vietnam. Bushehr, que custou mais de $1 bilhão, gerará 2% da eletricidade do Irã. Cada um dos quatro reatores a serem construídos na Turquia, ao custo de $20 bilhões, produzirá 20% mais energia que Bushehr.
O principal executivo da Rosatom Sergei Kiriyenko anda dizendo que Bushehr é um “grande projeto internacional” do qual participaram mais de dez países da União Europeia e do Pacífico asiático. O que ninguém sabe com certeza é por que demorou tanto a ser inaugurado, dado que a Rússia assumiu o projeto em 1992 (Bushehr começou a ser construída em 1974, pela alemã Kraftwerk Union, empresa que resultou de uma fusão entre Siemens e AEG. Em 1980, a Siemens deixou o Irã).
Já se falou de tudo, para justificar os muitos atrasos – sanções dos EUA e ONU; desconfianças em Teerã, quanto aos russos; o fato de que Teerã não pagava em dia. Agora, são águas passadas. Kiriyenko acertou, pelo menos em parte, ao dizer que Bushehr “confirma a posição da Rússia, de que todos os países do mundo têm direito à energia nuclear para fins pacíficos” – desde que se deixem monitorar pela Agência Internacional de Energia Atômica, IAEA.
Nos termos do acordo Teerã-Moscou, a Rússia fornecerá combustível nuclear para Bushehr e encarregar-se-á dos resíduos (de modo que o Irã não possa extrair plutônio dos resíduos), e tudo sob monitoramento da IAEA. Centenas de engenheiros russos permanecerão trabalhando em Bushehr até 2013, antes de que Teerã assuma total controle sobre a usina.
No início de agosto, até o Departamento de Estado dos EUA, pelo principal porta-voz Philip Crowley, teve de admitir que “Bushehr foi projetada para fornecer eletricidade ao Irã. Não é considerada ameaça de proliferação, porque a Rússia fornecerá o combustível necessário e retirará os resíduos, dos quais nasce o risco de proliferação.” Washington está focada, como laser, é na usina de enriquecimento de urânio de Natanz; a segunda, que está em construção, em Qom; e no reator de água pesada em Arak, também em construção.
A ideia de que Teerã poderia construir uma fábrica “secreta” de bombas no subterrâneo de Bushehr é ridícula; num flash, seria descoberta pelos muitos satélites-espiões. Assim, enquanto os estridentes guerreiros-de-sofá neoconservadores norte-americanos desfilam sua estupidez, e tratam como se fossem coisas iguais uma usina nuclear monitorada internacionalmente e uma fábrica de bombas atômicas, os russos servem-se alegremente da mesma usina para construir novas oportunidades de negócios.
Moscou sabe que o que realmente está em jogo na chamada ‘questão nuclear iraniana’ é que os EUA – com seu arsenal nuclear gigante – e Grã-Bretanha e França – com seus arsenaizinhos – simplesmente não querem que outro país do mundo em desenvolvimento (além de Índia e Paquistão) intrometam-se no aconchegante ninho dos senhores de bombas atômicas. E a Rússia tampouco tem interesse em meter-se em mais um confronto estratégico, no caso de o Irã chegar à bomba atômica (Moscou, assim, joga seu jogo de xadrez geopolítico). Fato é que o ocidente e Moscou só querem, mesmo, que tudo continue exatamente como está.
Com o quê chegamos ao xis da questão. Enquanto EUA, Grã-Bretanha e França não aceitarem que o Irã enriqueça seu urânio, simplesmente não há qualquer possibilidade de contarem com o Irã como parceiro colaborativo numa agenda de cooperação global de não-proliferação. Até lá, a indústria russa de construção de usinas nucleares continuará a encher-se de dinheiro.

Escola vira ponto de cultura e transforma vila em centro cultural

Na Vila da Prata, em Mogi das Cruzes (SP), tem pessoas que valem ouro. Entre elas está a dona Ana. Voluntariamente ela iniciou um projeto que mudou a cara da comunidade e das pessoas que moram nela. Tudo isso a partir do espaço da escola da região. O local que antes estava abandonado hoje já é ponto de cultura e esporte da Vila da Prata. O Tá na Escola, da Opção Brasil, é o segundo episódio da série Interprogramas, que você vê todos os sábados aqui na TV Vermelho.


A 2ª edição do Prêmio Cultura Viva, idealizado pelo Ministério da Cultura (MinC), com patrocínio da Petrobras, produziu uma série de seis interprogramas. Essas peças audiovisuais foram veiculadas nos intervalos da programação do Canal Futura, no evento Teia/2007 e em eventos do Prêmio.

Para o desenvolvimento deste projeto, que abordou o tema da 2ª edição do Prêmio Cultura, educação e comunidade, foram selecionados seis Pontos de Cultura que atuam na área do audiovisual: Amanda Associação Mundo Animado das Artes (CE), Espelho da Comunidade TV Ovo (RS), Instituto Marlin Azul (ES), Opção Brasil (SP), Paraiwa Coletivo de Assessoria e Comunicação (PB) e Vídeo nas Aldeias (PE).

Veja o primeiro episódio da série na sequência do vídeo acima ou clique:
-Animação recria cotidiano das aldeias de pescadores do Brasil

Ovos podres e nossa democracia rompida

28 de agosto de 2010, coluna semanal de Amy Goodman

Qual é a relação entre 500 milhões de ovos e a democracia? A retirada em massa de ovos infectados com salmonela do mercado de consumo, o maior recolhimento de produtos primários na história dos Estados Unidos, permite-nos ver o poder que as grandes corporações transnacionais têm. Poder este que se exerce não apenas sobre nossa saúde, senão também sobre nosso governo.

Ainda que sejam muitas as marcas retiradas do mercado de consumo, todas estas podem ser rastreadas até chegar a só duas granjas de produção de ovos. Cada vez mais, a provisão de alimentos está em mãos de enormes companhias, crescendo vertiginosamente, e que exercem um enorme poder sobre nosso processo político. A mesma situação que ocorre com a indústria alimentícia, dá-se também com as petroleiras e os bancos: são corporações gigantescas (algumas com orçamentos superiores a maioria dos países do planeta), estão controlando nossa saúde, nosso meio ambiente, nossa economia e, cada vez mais, nossas eleições.

O surgimento de salmonela é só o episódio mais recente de uma série de outros que demonstra uma indústria alimentícia desenfreada. Patty Lovera, subdiretora do grupo pela segurança alimentar Food & Water Watch, me disse: “Historicamente, sempre tem havido resistência por parte da indústria a todo tipo de norma de segurança alimentar, seja esta ditada pelo Congresso ou por outros organismos governamentais. Existem grandes associações comerciais para cada setor de fornecedores dos nossos alimentos, desde os grandes produtores agroindustriais até as lojas produtos comestíveis.”

Os ovos contaminados com salmonela provinham de apenas duas granjas com porte de fábrica, a Hillandale Farms e a Wright County Egg, ambas do estado de Iowa. Por trás deste surgimento da doença está o empório do ovo de Austin “Jack” DeCoster. DeCoster é proprietário da Wright County Egg e também da Quality Egg, provedora de frangos e de alimentos para frangos das duas granjas de Iowa. Patty Lovera afirma que: “DeCoster é um nome que se escuta muito quando alguém começa a falar com conhecedores da indústria do ovo ou com pessoas que provem dos estados de Iowa, Ohio ou dos outros estados em que DeCoster opera. Por isso achamos que DeCoster é o perfeito exemplo do que sucede quando temos este tipo de concentração e produção em grande escala. Não se trata só de segurança alimentar ou só de dano ambiental ou do tratamento que recebem os trabalhadores. Quando estamos em frente a este tipo de produção em massa, responsável por enormes quantidades e variedades de nossos alimentos, se trata de um pacote completo de efeitos colaterais negativos.”

A agência de notícias Associated Press produziu um resumo das violações às normas sanitárias, de segurança e de leis trabalhistas presentes nas operações de DeCoster com ovos e porcos em vários estados. Em 1997, a empresa DeCoster Egg Farms aceitou o acordo da Justiça e resolveu de pagar uma multa de dois milhões de dólares pouco depois que o então ministro de Trabalho Robert Reich qualificou sua granja de “tão perigosa e opressora como qualquer empresa maquiladora (ver nota 1 no final do texto). Em 2002, a companhia de DeCoster pagou USd 1 milhão e meio de dólares para chegar a um acordo fruto de uma demanda legal apresentada pela Comissão Federal de Igualdade de Oportunidades Trabalhistas, que representou judicialmente contra a empresa, em defesa de mulheres mexicanas que informaram ter sido submetidas a assédio sexual, inclusive violação e estupro, incluindo abusos e represálias por parte de seus supervisores. Este verão, outra companhia vinculada a DeCoster teve de pagar USd. 125 mil dólares ao estado de Maine por ser acusada de trato cruel contra os animais.

Apesar de tudo isto, DeCoster tem prosperado no negócio de ovos e porcos, o que o põe à altura de outras grandes corporações transnacionais, como a British Petroleum (BP) e os grandes bancos. O derramamento de petróleo da BP, o maior na história deste país, esteve precedido por uma longa lista de fatos criminosos e graves violações às normas de segurança no trabalho. Sendo que todas estas denúncias já datam de vários anos. Um dos mais conhecidos destes atos foi a grande explosão da refinaria da cidade de Texas, desastre esse que custou a vida de quinze pessoas no ano 2005. Se a BP fosse uma pessoa física (um cidadão qualquer), teria ido a prisão faz muito tempo.

A indústria financeira é outro delinqüente crônico. Pouco tempo após o maior desastre financeiro mundial (desde a Grande Depressão iniciada com o Craque da Bolsa de Valores de Nova York em 1929), bancos como Goldman Sachs, cheios de dinheiro depois resgate financeiro governamental - quando os cofres públicos jorraram dinheiro para a salvação da Banca - interferiram no processo legislativo que justamente os tentava controlar.

O resultado foi um novo e amplamente ineficaz organismo governamental de proteção ao consumidor, além de uma implacável oposição à designação, para a direção deste organismo, da defensora dos direitos do consumidor Elizabeth Warren, que seria a pessoa quem supervisionaria aos bancos tanto como o novo organismo lhe permitisse. Este é o motivo pelo qual se opõem a sua designação os banqueiros, dentre eles, Timothy Geithner e Larry Summers. O primeiro foi nomeado pelo Presidente Obama nomeou como Secretário do Tesouro e Assessor Econômico.

Permite-se às corporações transnacionais operar praticamente sem supervisão e nem regulação. Permite-se que o dinheiro das grandes empresas exerça influência sobre as eleições, e por tanto, sobre a conduta de nossos representantes. Depois da decisão da Corte Suprema no caso apresentado pelo grupo de direita Citizens United, permitindo doações corporativas ilimitadas às campanhas, o problema vai de mau em pior. Para ser eleitos e manter no poder, os políticos deverão satisfazer mais e mais a seus doadores empresariais. Se poderia dizer que o lobo vigia ao galinheiro (e aos ovos podres que há nele). No entanto, há esperança. Existe um crescente movimento para reformar a constituição dos Estados Unidos, para tirar das corporações transnacionais o status legal de “pessoa jurídica”, conceito pelo qual estas empresas têm os mesmos direitos que as pessoas normais.

Isto faria que as corporações estivessem sujeitas à mesma supervisão que existiu durante os primeiros cem anos da história dos Estados Unidos. Mas para que as pessoas sejam as únicas com direito à participação política será necessário um verdadeiro movimento de base, dado que o Congresso e o governo de Obama parecem não ser capazes de implantar nem sequer as mudanças mais básicas. Como diz o refrão: “para se fazer um omelete, é preciso quebrar alguns ovos”.

1 Observação do tradutor: maquiladoras são empresas de montagens de peças industriais localizadas na fronteira entre os EUA e o México, que basicamente emprega mulheres, paga salários aviltantes e oferece tratamento desumano.


____________________________________________________________

Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.


© 2010 Amy Goodman: Âncora de Democracy Now!, um noticiário internacional transmitido diariamente em mais de 550 emissoras de rádio e televisão em inglês e em mais de 250 em espanhol. É co-autora do livro "Os que lutam contra o sistema: Heróis ordinários em tempos extraordinários nos Estados Unidos", editado por Le Monde Diplomatique Cono Sur.

Texto traduzido do castelhano e revisado do original em inglês por Bruno Lima Rocha; originalmente publicado em português por Estratégia & Análise. É livre a difusão em língua portuguesa, desde que citando a fonte do original e neste idioma.
Imagem: The Quality Egg of New England, uma das gigantescas empresas de Austin “Jack” DeCoster, empresário da alimentação e acusado de ser o responsável final pela praga de salmonela nos ovos. Tal como no ramo alimentício, a concentração produtiva e de poder, faz com as corporações transnacionais estejam acima da cidadania.